sábado, 15 de novembro de 2014

Doce de tacho - ambrosia de ovos com queijo

Doce de tacho ... viajando no tempo ... incursões poéticas ...



O clima natalino de 2014 já chegou. As cidades já estão ficando mais iluminadas. As árvores de Natal já começaram a ser montadas. E já pensando na ceia de Natal com tanta comida gostosa, me lembrei de um doce tradicional da culinária mineira - a ambrosia de ovos com queijo. Simplesmente deliciosa! Minha avó aprendeu com a mãe dela e ensinou para a minha mãe e para mim também. Aprendi este doce, vendo a minha avó fazer, quando ainda era criança. Muita história da minha família e da minha infância surge do fundo do baú, quando eu saboreio este doce. Lembranças de um tempo tranquilo, gostoso em que os cheiros eram marcantes na cozinha, cheiro de pão de queijo, cheiro de rosca, cheiro de broa de milho, cheiro de doce no tacho, cheiro de carinho, cheiro de amor ...

Mas, antes da receitinha, vou deixar  registrado um belo poema português e peço-lhes que deixem a imaginação fluir ... porque me lembrei da doçaria portuguesa,  feita à base de muitos ovos e açúcar, porque me lembrei de nossas origens portuguesas, da literatura portuguesa e toda a sua riqueza. Um olhar sobre o passado, perdas ... saudades ... um olhar de olhares ...

"Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
tão fora d'esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém".
(século XV - Cancioneiro Geral - João Roiz de Castelo Branco)

Lá vai a receitinha!

Receita de Ambrosia (doce de ovos com queijo) 
Ingredientes:

Ø 02 litros de água
Ø 12 ovos
Ø 800 gramas de açúcar (de preferência o cristal)
Ø 12 colheres de queijo (de preferência curado)
Ø 08 pauzinhos de canela
Modo de fazer:
Ø Primeiramente faça uma calda. Coloque no tacho (ou em uma panela grande)  a água e o açúcar. Leve ao fogo. Deixe uns 40 minutos fervendo até formar uma calda em ponto de fio leve. Quando começar a fervura, pode acrescentar os pauzinhos de canela, pelo menos uns dois. Após ferver e estiver no ponto, desligar. Aguarde.
Ø Bata, de preferência, em uma batedeira, as claras até chegar ao ponto de neve, mais consistente.
Ø Acrescente as gemas e continue a bater até formar uma espuminha consistente, firme.
Ø Junte o queijo ralado e, agora, com cuidado para não desfazer aquela espuminha dos ovos, vá misturando o queijo aos poucos.

Ø Acenda o fogo e coloque a calda que já está pronta para esquentar e ferver. Enquanto isso, vá jogando com uma colher grande a mistura de ovos com queijo sobre aquela calda. E deixe a mistura, sem mexer com a colher, ir cozinhando.
Ø Aos poucos o calor vai fazendo a mistura se soltar das laterais do tacho (ou panela). Com uma colher e com cuidado, vá desprendendo o doce das bordas.
Ø Quando as postas estiverem mais consistentes, com uma espumadeira, vá virando cada uma delas, para que o outro lado também possa passar pelo cozimento. Cuidado para não desmanchar as postas.
Ø Com uma outra colher grande, de preferência a de pau, vá pegando no fundo do tacho a calda e jogando por cima do doce. Isso ajuda no cozimento e faz com que a calda docinha entranhe naquela massinha de ovos. Nesta fase pode-se colocar o restante dos pauzinhos de canela para dar ainda mais sabor.  Na receita original da vovó, talvez para deixar o doce mais molhadinho, macio e realçar o seu sabor, havia a sugestão para que, ainda neste momento, fosse pingando um pouquinho de leite e colocasse uma colherzinha de manteiga de leite.
Ø Assim que a cor do doce estiver bem amarelada, um tom mais forte de amarelo, pode desligar o fogo. Mas tome cuidado para não deixar secar demais a calda! É preciso deixar uma caldinha no meio do doce, porque ele vai esfriar e ainda vai absorver mais daquela calda. Mantenha o doce no tacho até esfriar. Mas não demore muito a retirar o doce do tacho, sequer guarde o doce no tacho, pois certamente haverá alteração em sua cor.
Ø Quando o doce estiver frio, retire-o do tacho com uma colher e, com cuidado, para não desfazer as postas, o coloque em um pirex ou em uma tigela, de preferência transparente, para que sua cor e textura fiquem em evidência. Salpique um pouco de canela em pó por cima do doce.


Ø Leve-o à geladeira para servi-lo geladinho. Depois é só saborear.

Ø Bom apetite!!!

Dicas sobre a limpeza do tacho
Utilizei-me do tacho de cobre da minha avó, porque é tradição aqui em Minas Gerais fazer doces no tacho, pois o cobre, além de um excelente condutor de calor,  deixa a cor do doce mais bonita. Mas para utilizá-lo é preciso fazer a sua limpeza de forma correta. É necessário dele retirar o zinabre (ou azinhavre - camada de cor verde resultante da oxidação do cobre)  e as manchas escuras que aparecem no decorrer do tempo. Basta um pouco de limão ou vinagre misturado com sal. Com um papel toalha ou com um paninho vá passando esta mistura dentro e em volta do tacho até que ele fique com a superfície mais clara e brilhante. Lave o tacho em água corrente para retirar aquela mistura de limão/vinagre com sal. Seque-o bem, porque o restinho de água que fica, facilita o aparecimento de manchinhas pelo tacho. Dá um trabalhinho limpar o tacho. Mas depois ele fica muito bonito e sem problemas para usá-lo.


Embora alguns tenham restrições com o uso de utensílios de cobre na produção alimentícia, é preciso saber mantê-los em boas condições de uso. Na Índia, o cobre foi usado para esterilizar água potável no ano de 2600 e 2200 aC, sendo ainda hoje usado em muitos lares para armazenar água. Na medicina ayurvédica é comum a utilização do copo de cobre. 

Geralmente se enche um copo de cobre com água fria antes de dormir e depois se deve beber esta água ao acordar. Essa rotina  ayurvédica proporciona mais vitalidade, mais estímulo e nos mantém mais ativos, porque equilibra os três doshas (Vata, Pitta e Kapha - tridoshas - 03 energias fundamentais que regem a função dos nossos corpos no nível físico e emocional). A água armazenada desta forma é designada como "Tamra Jal" e é considerada pela Ayurveda como a "água da mortalidade", devido aos seus inúmeros benefícios para a saúde, retardando o envelhecimento e estimulando o cérebro, e tem propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias.



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