Tai Chi Chuan
- Poesia em movimento
Definição
Tai
Chi Chuan (em chinês: 太極拳 pinyin: Tàijí quán) pode ser considerado uma arte, uma
filosofia e um tipo de luta marcial.
A
base do Tai Chi está na teoria do yin-yang que envolve o fluxo de energia e dos
opostos que se complementam: vencer o movimento através da quietude; vencer a
dureza através da suavidade e vencer o rápido através do lento.
Os
seus princípios filosóficos se baseiam no taoísmo e na alquimia chinesa.
É
reconhecido também como uma forma de meditação em movimento. É uma ferramenta
para o exercício da meditação, porque exercita a mente.
Enquanto
arte marcial, pode ser utilizado para o combate e autodefesa.
Seus
movimentos são mais lentos justamente para conseguir captar (sentir) a energia
da natureza e acompanhar o próprio fluxo de energia interior, de modo a não
alterar o ritmo dos batimentos cardíacos.
Com
certeza, todos nós termos energia (“chi”), mas resta saber se nós sabemos usar
esta energia que possuímos. Temos a riqueza, mas não sabemos o que fazer com
ela. Então ela não valerá para nada. Portanto, temos que saber converter essa
energia em amor de Deus, amor puro e verdadeiro.
A
prática do Tai Chi Chuan busca o equilíbrio entre mente, corpo e espírito, o
que certamente vai estabilizar o equilíbrio das forças vitais do organismo,
além de causar uma sensação de paz e harmonia.
A
busca da harmonia está presente nas posições e movimentos do Tai Chi. A
apresentação que se segue em forma de slides nos permite sentir toda a
graciosidade da harmonia presente no Tai Chi. Aproveito para agradecer a
colaboração do meu professor e parceiro, Dr. Wang, que com paciência e dedicação me ensinou algumas noções básicas
do Tai Chi e do taoísmo.
“Não existe melhor modo de obter os conhecimentos adequados sobre alguma arte do que aprendê-la diretamente dos mestres”.
“Tudo que é valioso tem harmonia em si como sua própria essência.
Sem harmonia não há Deus. A harmonia na existência prova que algo a mantém coesa, algo invisível. Sem harmonia não há
amor. Mas ela é um fio invisível, ninguém pode vê-la.
Todo mundo pode senti-la. O amor nos deixa cientes do fato de que
tudo que é visto pode não ser tudo, pode existir mais do que é visível. A
realidade não termina com o visível. Há um plano diferente de sentimento, muito
mais profundo, muito mais básico.
Sem harmonia não há alegria. Quando você está em harmonia, a
alegria irradia de você naturalmente, espontaneamente. Ela se torna sua
vibração.
Uma pessoa harmoniosa com certeza será alegre e bonita. Isso é
inevitável, porque não há nada mais bonito que a alegria, nada mais gracioso
que a harmonia”. (Meditações para a noite
– Osho)
Assim,
praticar o Tai Chi Chuan até obter um
fluxo de energia contínuo e fusão com a energia universal do cosmo, além de ser
uma forma de retornar ao grande vazio,
permite alcançar a plenitude espiritual.
Ideogramas do
Tai Chi Chuan
Os
ideogramas que compõe a palavra Tai Chi Chuan significam:
太, Tai, significa "o maior", "o mais
alto", "supremo", "absoluto".
極 (ou 极 em chinês simplificado), Chi (ou Ji), significa, original
e literalmente, a parte mais alta do telhado - "cumeeira". Por
extensão, significa também "polar".
拳, Chuan (ou Quan), significa "Punho", aqui
simbolizando "soco", "luta a mãos livres" (desarmadas),
"boxe"
Diagrama do
Tai Chi
Portanto,
algumas das possíveis traduções literais de Tai Chi Chuan são: "Punho da
suprema cumeeira", "punho do limite supremo", "punho do tai
chi" e "punho do estado supremo, acima das polaridades". Como
cada ideograma pode ter mais de um sentido, há outras formas de se traduzir o
termo além destas.
No
taoísmo, onde o Tai Chi Chuan teve sua origem, o Tai Chi ("suprema
cumeeira", "limite absoluto" ou "estado supremo, acima das
polaridades") tem a conotação filosófica de "elevação",
"sublimação", "purificação", resultante, entre outros, do desenvolvimento
de um mecanismo de defesa emocional pelo qual tendências ou sentimentos
considerados "inferiores" se transformam em tendências e sentimentos
considerados "superiores".
O Tai
Chi também simboliza o "Cosmo" e a interação dos princípios energéticos
yin e yang (que estão em constante mutação), sendo conhecida a sua
representação pelo tai chi tu (diagrama do tai chi), mais conhecido no Ocidente
como o "símbolo do yin-yang".
O Tai
Chi Chuan tem suas raízes na China, sendo, atualmente, uma arte praticada no
mundo todo. É apreciado no ocidente especialmente por sua relação com a
meditação (tao yin) e com a promoção da saúde, oferecendo, aos que vivem no
ritmo veloz das grandes cidades, uma referência de tranquilidade e equilíbrio.
História da
origem do Tai Chi Chuan
O
aspecto lendário é, geralmente, encarado como uma metáfora para indicar o desenvolvimento
dos princípios do Tai Chi Chuan através da figura do taoísta imortal Chang San
Feng.
Mas
historicamente, o Tai Chi Chuan foi criado por Chen Wangting (1600-1680) na
passagem da dinastia Ming para a dinastia Qing. Esta é a versão considerada
oficial pelo governo chinês .
Chang
San Feng (1247-?), que então vivia num templo taoísta do monte Wudang, já teria
desenvolvido uma arte conhecida como "Os trinta e dois estilos do punho
longo de Wudang" e, posteriormente, criou "As treze posturas do tai
chi", após observar uma luta entre um pássaro (grou) e uma cobra, quando
constatou que a flexibilidade se sobrepunha à rigidez, compreendendo a prática
da alternância entre o yin e o yang e outras concepções da natureza, que se
constituem na base do que depois passou a ser chamado de Tai Chi Chuan.
O
sucessor de Chang San Feng foi o também
monge taoísta Taiyi Zhenren que, no final da dinastia Ming, difundiu a arte
entre os discípulos do monte Wudang. Entre esses discípulos, encontrava-se
outro monge de nome Ma Yun Cheng.
Ma
Yun Cheng transmitiu a arte para vários discípulos célebres, entre eles Mi Deng
Xia e Guo Ji Yuan, popularmente conhecidos como "os dois santos" e
Wang Zhong Yue, que denominou essa arte de Wudang Tai Chi Chuan e escreveu o
"Tratado de Tai Chi Chuan", um dos Clássicos do Tai Chi Chuan.
Wang
Zhong Yue transmitiu o Tai Chi Chuan ao famoso mestre Zhang Song Xi, que depois
o ensinou a Dan Si Nan, que veio a ter como discípulo Wang Zheng Nan, que se
referia à arte de Wudang como uma arte interior, distinta das artes de Shaolin,
que ele chamava de arte exterior.
Origem
Os
criadores do Tai Chi Chuan basearam sua arte na observação da natureza - não
apenas na observação dos animais, mas também no estudo dos princípios da
interação entre os diversos elementos naturais.
Como
somos parte desta natureza, o conhecimento destes princípios e de como atuam
dentro de nós, estudados pela medicina tradicional chinesa, revelam o Tai Chi
como uma fonte efetiva de energia que se encontra em nosso interior, situada na
região do corpo nomeada pelos chineses de dantian médio.
Estilos
São
cinco os estilos de Tai Chi Chuan reconhecidos como tradicionais pela
comunidade internacional: cada um deles recebeu o nome da família chinesa que o
criou, desenvolveu e transmitiu. Todos têm a mesma essência e seguem os mesmos
princípios básicos, diferindo apenas na forma. Por ordem cronológica, temos:
Tai
chi chuan estilo Chen (陳氏)
Tai
chi chuan estilo Thssen (陳氏)
Tai
chi chuan estilo Yang (楊氏)
Tai
chi chuan estilo Wu/Hao (武氏)
Tai
chi chuan estilo Wu (吳氏)
Tai
chi chuan estilo Sun (孫氏)
Ordenados
por sua popularidade, considerando o número de praticantes, teríamos: Yang, Wu,
Chen, Sun e Wu/Hao.
O Tai Chi
Chuan como arte marcial
As
considerações feitas a partir de agora foram baseadas e até mesmo compiladas da
obra “O livro completo do Tai Chi Chuan” de Wong Kiew Ki, traduzido por Afonso
Teixeira Filho, da Editora Pensamento.
O Tai
Chi Chuan, ou Taijiquan, em chinês românico, é considerado uma luta marcial, um
sistema de luta conciso e abrangente, que se utiliza das quatro principais
formas de ataque: bater, chutar, derrubar e agarrar. A natureza do treinamento
do Tai Chi Chuan induz à disposição e a sentimentos calmos.
O
desejo de vingança, o orgulho de matar e a crença de que em combate o único
objetivo é derrotar o oponente não faz parte da mecânica e da psicologia do Tai
Chi Chuan. Sua estratégia de combate reside no fluir com os movimentos do
oponente em vez de ir contra eles. Permanecer relaxado e calmo ajuda nas
técnicas de combate, porque a força do golpe provém do fluxo interior de
energia e não de um impulso mecânico.
O Tai
Chi Chuan não é uma luta marcial agressiva, uma vez seus movimentos se baseiam
numa arte ou técnica conhecida como Empurrar as Mãos, na qual os braços entram
em contato mútuo em movimentos rítmicos. O objetivo é sentir a fraqueza do
outro, como, por exemplo, uma abertura desguarnecida ou um momento de
desequilíbrio, de modo que um praticante possa empurrar o oponente sem feri-lo.
Quando se pratica o Empurrar as Mãos, o praticante flui junto não só com os
movimentos do adversário, mas também com os sentimentos dele. Ao se perceber
que o parceiro está hesitante, ansioso ou distraído, pode-se aproveitar da
oportunidade e derrubá-lo.
A
filosofia do Tai Chi Chuan não surgiu com comandantes militares cujo objetivo
era matar, mas sim com mestres taoístas que queriam prolongar a vida e alcançar
a imortalidade. E o taoísmo é conhecido pelo amor à liberdade, pelo desprezo
por frivolidades mundanas e pelo pendor pela jovialidade. Assim, o espírito do
Tao se manifesta na prática do Tai Chi Chuan através de uma atitude
despreocupada, alegra e espontânea, seja em sua prática solitária quanto no
treinamento com os companheiros.
A riqueza do
Tai Chi Chuan – corpo e mente
Como
desenvolver a lucidez mental necessária para observar calmamente os movimentos
do oponente e canalizar a energia intrínseca para as mãos e pernas e desferir
golpes poderosos? Aumentando o poder da mente com a meditação e a energia
intrínseca com a prática do Tai Chi Chuan.
O Tai
Chi Chuan é a arte que melhor demonstra que a força bruta ou mecânica não é necessária para lutar.
O Tai
Chi Chuan não requer nenhum uniforme ou roupa específica para praticá-lo.
Mas não resisti e acabei escolhendo estas roupas!!!
Os
métodos de treinamento do Tai Chi Chuan são graciosos e elegantes.
A
arte do Tai Chi Chuan enfatiza a clareza de pensamento, disposição relaxada e
aversão à brutalidade.
Não
existe no Tai Chi Chuan atitude tensa e competitiva.
Os
praticantes de Tai Chi Chuan geralmente se interessam pela literatura, pintura,
música e xadrez.
O
rico conjunto de teorias do Tai Chi Chuan se encontra registrado em linguagem
poética. E os princípios das várias técnicas eficazes de luta e de treinamento
da força podem ser aplicados à vida diária. O princípio quádruplo do
treinamento da força ajuda a diferenciar o real do aparente, ajuda a regular a
respiração, ajuda a usar a mente e não a força e ajuda a permanecer calmo.
O Tai
Chi Chuan difere das demais artes marciais, pois não se utiliza de um
treinamento da forma simplista e mecânica. Métodos grosseiros e rudes de
treinamento da força com sacos de areia, corrida dentre outros na verdade
diminuem a capacidade de luta do praticante, visto que aumentam a força e a
resistência aparentemente.
Socar
um saco de areia endurece o punho, mas não aumenta a força. Todo aumento do
poder não resulta do contato repetido do punho contra o saco de areia, mas sim
da ação repetida de socar. Portanto, se a pessoa apenas socar o ar, em vez do
saco de areia, que causa dor, o aumento do poder do soco será maior e mais
rápido. É preciso diferenciar o real do aparente. O uso da força interior é o
diferencial. Não se pode fazer do punho um martelo de osso. Tem-se que fazer do
punho uma ponte ligando a força interior da pessoa ao oponente. Temos que utilizar
a respiração a nosso favor, pois desta forma também estaremos utilizando a mente e permaneceremos calmos e
relaxados e ao mesmo tempo estaremos aumentando a força interna do soco.
Ao socar um saco de areia o aumento da resistência é aparente, e não real, pois, se o aumento da atividade não for seguido pelo treinamento da mente, conseguiremos apenas ficar sem fôlego. O coração também estará trabalhando mais, e o sangue corre de forma artificial. Isso leva à tensão e impede a pessoa de pensar com clareza e reagir espontaneamente no combate. A longo prazo, isso pode afetar a saúde. Os métodos do treinamento da força do Tai Chi Chuan sobrepujam essas desvantagens.
O Tai Chi
Chuan e sua contribuição na saúde, no aperfeiçoamento do caráter e na filosofia
O Tai
Chi Chuan, além de ser uma eficiente arte de luta, pode ser eficaz na cura e na
prevenção de doenças orgânicas e psicóticas, como hipertensão, reumatismo,
asma, gastrite, insônia, enxaqueca, depressão e nervosismo – exatamente as
mesmas doenças que a medicina convencional considera incuráveis. Praticado
adequadamente, ele pode prevenir ou aliviar dores nos joelhos. Além disso, ele
oferece um sistema suave de exercícios para promover a saúde e a vitalidade. Quem
não tem tempo ou acha que exercitar-se numa academia é muito difícil, pode
encontrar uma resposta positiva no Tai Chi Chuan. Apenas quinze minutos por
dia, no conforto de casa, proporcionam todo o exercício de que precisamos, mas
para o qual não temos tempo ou energia. Os benefícios não são só físicos. O
aspecto meditativo do Tai Chi Chuan e sua ênfase nos movimentos relaxados
contribuem para a serenidade da mente e a clareza do pensamento.
Enquanto
muitas artes marciais deixam seus praticantes beligerantes e agressivos, o Tai
Chi Chuan ajuda seus adeptos a
permanecerem calmos e bem compostos. Como esse treinamento enfatiza a
gentileza, a elegância e a harmonia do fluxo energético, ele se presta ao
aperfeiçoamento do caráter, mais do que a maioria das outras artes marciais.
Mas o
Tai chi Chuan não é apenas uma arte marcial; ele está profundamente enraizado
na filosofia chinesa e na sabedoria taoísta. O termo “Tai Chi Chuan”, que
literalmente significa o “Princípio Infinito” e figurativamente “o cosmo”, tem
sua origem no Yi Jing (I Ching), o Livro da Mutações. No início do clássico Tratado de Tai Chi Chuan,
o grande mestre Wang Zong Yue diz que o “Tai Chi nasce do Vazio. Origina o
movimento e o repouso, e é a mãe do yin e do yang. Quando movido, separa;
quando em repouso, unifica”.
A filosofia
do yin-yang
Poderíamos
dizer que o Tai Chi Chuan é totalmente fundamentado no yin e yang. O conceito
de yin e yang está relacionado sempre a dois aspectos que, embora sejam
opostos, são também complementares em relação a tudo o que existe no universo,
seja um simples objeto, um processo ou uma ideia. Por exemplo, se caminharmos
olhando para o céu, que está acima de nós, “céu” e “acima” tornam-se
significativos apenas quando relacionamos esses dois termos aos seus simétricos
“terra” e “abaixo”. Em outras palavras
“céu” e “acima” e “terra” e “abaixo” são
dois pares cujos elementos se opõem, ainda que se complementem, e cada um deles
dá sentido ao outro. De acordo com esse exemplo, “acima” e “céu” referem-se,
por convenção, ao yang, enquanto “abaixo” e “terra” referem-se ao yin. Yin e yang são dois aspectos de uma unidade
ou holismo. Essa unidade geralmente é representada por um diagrama conhecido
como o símbolo do Tai Chi. Tai Chi é geralmente traduzido por cosmo. Ao
observarmos o símbolo, percebemos que ele é perfeitamente simétrico de todos os
pontos de vista. Ele simboliza magistralmente aqueles aspectos complementares,
embora opostos, do yin-yang. Percebemos também que o yin começa precisamente
onde o yang atine o seu máximo e vice-versa. O símbolo do Tai Chi é o motivo
mais recorrente nas ilustrações taoístas, simbolizando, entre outras coisas, o
físico e o espiritual da filosofia taoísta.
O
nome “Tai Chi Chuan” deriva desse conceito de yin-yang. Quando Zhang San Feng
modificou o kung-fu shaolin para o Wudang dos Punhos Longos, que mais tarde
viria a ser o Tai Chi Chuan, ele aperfeiçoou os movimentos de modo a deixa-los
mais suaves e circulares na arte de lutar, e aperfeiçoou também a harmonia dos
movimentos, relativamente mais duros do kung-fu shaolin. Os movimentos do Tai
Chi Chuan são graciosos, delicados e bem diferentes dos movimentos do kung-fu
shaolin, por sua vez rápidos e potentes. Os alunos de Tai Chi Chuan normalmente
fazem os movimentos de forma lenta, pois fica mais fácil desenvolver o fluxo
interno de energia com movimentos lentos. Chen Wang Ting procurou enfatizar
métodos interiores e suaves, como movimentos circulares e o fluxo de energia.
No método suave e interno utilizado para desenvolver a Palma do Tai Chi, os
praticantes fazem movimentos graciosos para produzir um fluxo de energia
através da palma das mãos. Nesse método, é preciso praticar de maneira adequada
o controle da respiração e a visualização. Esse método de desenvolver a Palma
do Tai Chi ilustra o conceito do yin-yang. Os melhores resultados são obtidos
quando o yin e o yang estão em harmonia. O aspecto yang se manifesta nos movimentos de mãos externos e circulares, e o
aspecto yin, no controle da
respiração e na visualização. Um praticante pode ainda desenvolver muita força
fazendo uso apenas da respiração e da mente. O aspecto yang da luta deve se harmonizar com o aspecto yin da saúde, a fim de se praticar o Tai Chi Chuan de forma
equilibrada. Vale ressaltar que praticando o Tai Chi Chuan, poder-se-á prevenir
doenças, aumentar a vitalidade e promover a longevidade.
Um
princípio importante do Tai Chi Chuan é: “Se o meu oponente não se mover, eu
não me moverei; se o meu oponente se mover, eu me moverei mais rápido que ele”.
Meu
oponente está pronto para atacar. Apesar de movimentar minhas mãos e meus pés
sem propósito, como fazem certos iniciantes, eu insisto nisso, com a finalidade
de avaliar a outra pessoa e de fazer que tanto a minha mente quanto a minha
energia permaneçam concentradas. Assim que o meu oponente se mover para me
atacar, seja para me dar um direto ou um chute lateral, eu me moverei com mais
rapidez para frustrar o seu ataque, antes mesmo de ele ser realizado por
completo, e contra-atacá-lo, por exemplo, desviando seu soco ou chute e golpeando-o
simultaneamente com a palma da outra mão. Esse é o padrão Tai Chi conhecido
como O Dragão Verde Cospe a Pérola, que também é conhecido como Girar o Joelho
e avançar o Passo.
O
conceito de yin-yang constitui a base filosófica do Tai Chi Chuan. A série
fundamental do Tai Chi Chuan, da qual muitas outras derivam, é algumas vezes
chamada de As Treze Técnicas do Tai Chi. Essa Treze Técnicas compreendem os
oito movimentos básicos de mãos do Tai Chi, a saber: o bloqueio com as mãos,
repelir, pressionar, empurrar, agarrar, dar uma cotovelada para a esquerda,
para a direita e permanecer no centro.
Os
oito movimentos de mãos e os cinco movimentos de pernas são inspirados no
conceito dos Oito Trigramas, ou ba-guá
(pakua) e no dos Cinco Processos Elementares,
ou wuxing (wu hsing) da filosofia taoísta. O ba-guá e o wuxing são
conceitos bastante próximos um do outro, e o princípio do yin-yang constitui o
fundamento da sua prática.
O ba-guá simboliza as oito formas
arquetípicas do universo, que são representadas pelo céu, pela terra, pelo
trovão, pelo vento, pela água, pelo fogo, pela montanha e pelo pântano.
Devemos
nos lembrar de que se trata de símbolos, e não de objetos independentes; o céu,
por exemplo, pode representar autoridade e poder. O conceito de ba-guá é a base para o funcionamento do Yi Jing (I Ching), o Livro das
Mutações, não só nas tendas de adivinhos, mas também em vários campos, como
na estratégia militar, na política e na economia.
O wuxing representa os Cinco Processos
Elementares do universo, que são representados pelo mental, pela água, pela
madeira, pelo fogo e pela terra. É importante perceber que são processos, e não
elementos – como são frequentemente descritos por eruditos ocidentais. A água e
o fogo como processos arquetípicos no
wuxing distinguem-se da água e do fogo como formas arquetípicas no ba-guá. Não podermos nos esquecer de que
esses termos são simbólicos; a água como um processo, por exemplo, pode
representar métodos de treinamento que aprimoram a saúde.
O yin-yang na
filosofia do Tai Chi
O
conceito de yin-yang pode nos ajudar a entender a teoria do Tai Chi Chuan de
forma mais concreta ou prática. Esse conceito é evidente em preceitos básicos
do Tai Chi Chuan, como o de “quietude e movimento”, “mente e corpo”,
“habilidade e aplicação”.
Entender
a harmonia do yin-yang possibilita-nos perceber que tanto a quietude quanto o
movimento são coisas importantes. E ambos os conceitos são utilizados no
combate. Por exemplo, o praticante de Tai Chi que sabe se movimentar, mas não é
capaz de permanecer quieto e observar o oponente, ou aquele praticante que
apenas se mantém plantado no lugar sem saber como se movimentar com rapidez
quando surge a oportunidade, não é um lutador eficiente. Ele não sabe aplicar a
harmonia do yin-yang.
Um
bom praticante de Tai Chi usa a mente e o corpo, não apenas no combate, mas também
no trabalho diário e no lazer. Se a maneira como ele pratica o Tai Chi lhe
garante uma boa forma física e um corpo saudável, mas faz com que ele continue
com a mente embotada, isso significa que o seu treinamento está incompleto. Ele
pode ser, mesmo assim, um praticante de Tai Chi Chuan muito habilidoso, mas se
continua indisposto no trabalho e no lazer é porque falhou no preceito básico
de “habilidade e aplicação” do yin-yang.
O Tai
Chi Chuan é uma arte maravilhosa que nos proporciona vitalidade, habilidade
para a defesa, estabilidade emocional, vigor mental e uma vida longa e
saudável. Em seu nível mais elevado, se estivermos preparados, ele nos ajudará
a transcender o físico e a completar a busca taoísta da imortalidade. O
entendimento do conceito de yin-yang nos dá um vislumbre dessas maravilhas.
A origem do
Tai Chi Chuan com Zhang San Feng
Um
dia, Zhang San Feng testemunhou uma briga entre uma serpente e um grou (alguns
documentos dizem que se tratava de um pardal), e isso o inspirou a modificar o
seu kung-fu shaolin, relativamente rude, para um estilo mais suave que passou a
ser conhecido como Os 32 Estilos do Wudang do Punho Longo. Este, mais,
desenvolveu-se no Tai Chi Chuan. Zhang San Feng foi o primeiro mestre a
descartar os métodos de treinamento exterior – como golpear sacos de areia,
pressionar as mãos em grãos, trinar com pesos – e estimular os métodos
interiores – como o controle da respiração, o fluxo do chi e a visualização. Por esse motivo, ele ficou conhecido como o
primeiro patriarca do kung-fu Hsing Yi. A maioria das escolas de Tai Chi
reconhece hoje Zhang San Feng como o fundador do Tai Chi Chuan, com exceção do
estilo Chen de Tai Chi Chuan.
A
“Canção do Sentar Silencioso”, que mostramos abaixo, foi extraída de O Segredo de Treinar a Quintessência
Interior na Arte do Tai Chi, que, segundo se dizia, fora escrito por Zhang
San Feng. Essa canção mostra que o objetivo original do Tai Chi Chuan era o
enriquecimento espiritual.
Sentado em silêncio, exercita a
meditação;
O impulso está no yuanguan.
Contínua e suavemente regula a
respiração;
Um yin e um yang fermentam no
caldeirão interior.
A natureza precisa ser iluminada; a
vida, preservada.
Não te apresses, deixa o fogo
queimar lentamente.
Fecha os olhos e contempla o teu
âmago,
Deixa que a tranquilidade e a
espontaneidade sejam a fonte.
Em cem dias, verás um resultado:
Uma gota de quintessência brota do kan,
A parteira é quem promove a união,
O bebê e a mulher são perfeitos.
A beleza é ilimitada e inexplicável,
Por todo o corpo, a energia vital
emerge.
Quem pode viver uma experiência tão
maravilhosa?
É como uma pessoa muda que tem um
lindo sonho.
Capta prontamente a essência
primordial;
A quintessência avança sobre os três
obstáculos,
Subindo do dantian para o topo do niyuan,
Para então submergir no zhongyuan.
Água e fogo combinam-se para formar
o verdadeiro mercúrio,
Sem o wu e o ji não há
quintessência.
Deixa que a mente esteja tranquila e
a vida seja vigorosa,
O espírito irradia através de três
mil mundos.
Um galo dourado canta no bosque
sombrio,
A flor de lótus floresce no meio da
noite.
O inverno chega, o sol torna a
brilhar,
Um rugido atroador irrompe no céu e
na terra.
Dragões gritam, tigres brincam;
A música celeste inunda o céu de
harmonia plena,
Na nebulosa mistura tudo é vazio,
Os fenômenos infinitos estão todos
aqui.
Maravilhoso em seu mistério:
misterioso em seu prodígio.
A circulação da corrente irrompe
através dos três obstáculos;
Todos os fenômenos nascem da união
do céu e da terra.
Sorve o orvalho da natureza, doce
como mel,
Os santos são budas, os budas são
santos.
Quando a realidade última se revela,
o dualismo desaparece,
Então, eu compreendo: todas as
religiões são iguais!
Come, se faminto; dorme, se cansado,
Fazer oferendas e pratica meditação.
O grande Tao está bem diante dos
teus olhos,
Se tiveres iludido, perderás a
oportunidade.
Uma vez perdida a forma humana,
podes ter de esperar
um milhão de eras.
O sonho ignorante da subida aos
céus,
O cego adentra a floresta profunda
para praticar.
O segredo supremo é maravilhoso além
do profano,
Descartar o segredo supremo é um
grave pecado.
Os quatro verdadeiros princípios, tu
os tens de cultivar,
Romper o portal do mistério para
alcançar o maravilhoso.
Cultiva o dia e a noite
incansavelmente,
Consiga logo um mestre que devolva
tua quintessência.
Alguns sabem que o verdadeiro
mercúrio
É a quintessência da longevidade e
da imortalidade;
Consagra-te ao dia; persevera cada
ida mais;
Não faças do cultivo espiritual uma
tarefa imediata:
O cultivo tarda, para o êxito,
três anos, nove anos,
Até que uma pérola de quintessência
amadureça.
Se queres saber quem compôs esta
canção,
Foi o sacerdote taoísta da Pureza e
do Vazio, o santo San Feng¹.
¹(Zhang, San Feng. The Secret of Training the Internal Elixir
in the Tai Chi Art, preservado por Taiyi Shanren, reimpressso a partir de
um antigo texto de Anhua Publications, Hong Kong, sem data, pp. 6809. Em
chinês.)
Este
texto foi baseado na obra O livro
completo do Tai Chi Chuan de Wong Kiew Kit (tradução de Afonso Teixeira
Filho) da Editora Pensamento.
O estilo Yang
de Tai Chi Chuan
Há
uma história muito interessante que narra o aparecimento do estilo Yang de Tai
Chi Chuan. Yang Lu Chan (1799-1872) vendeu todas as suas terras e foi trabalhar
como empregado da família de Chen Chang Xin com o objetivo de “roubar” o estilo
Chen de Tai Chi Chuan ao aprender os seus segredos. Ele teve tanto sucesso que
ninguém percebeu, mas, além disso, ele alcançou um nível muito alto.
Um
dia, um experiente lutador de kung-fu desafiou o mestre Chen Chang Xin. Seu
filho, seu melhor discípulo, aceitou o desafio, mas foi duramente derrotado. O
desafiante pediu para encontrar-se com o mestre. Os alunos de Chen avisaram a
ele que o mestre estava fora. Mas o desafiante, determinado a encarar o mestre,
alojou-se em uma hospedaria das redondezas e voltava a cada três dias para
procurá-lo. Isso continuou por alguns meses. A família Chen ficou desesperada;
parecia não haver jeito de livrar-se dessa situação embaraçosa.
Um
dia, o desafiante chegou e disse, como de hábito:
-
Gostaria de ver Sifu Chen Chang Xin e pedir-lhe que me ensine algumas técnicas
de luta!
Era
uma maneira delicada de dizer: “Estou aqui para uma luta amistosa.”
-
Desculpe-me, Sifu, nosso mestre ainda não voltou da viagem! – disse um dos
alunos.
-
Nesse caso, volto daqui a três dias.
Mas
antes que o desafiante fosse embora como de costume, um criado aproximou-se,
surpreendendo a todos, e disse:
-
Senhor, eu também tenho treinado um pouco o estilo Chen de Tai Chi Chuan. Não
sou muito bom, e ficaria honrado se o senhor me fizesse a gentileza de me ensinar!
Era
uma forma educada de dizer: “Aceito seu desafio amistoso”.
O
empregado, já sabemos, era Yang Lu Chan.
Eles
ficaram ainda mais surpresos quando Yang Lu Chan, empregando o legítimo estilo
Chen de Tai Chi Chuan, derrotou o desafiante. Mas derrotar um desafiante era
uma coisa, suportar a disciplina da família Chen, outra.
“Roubar”
um segredo marcial era um delito grave, castigado com a morte. Então, Yang Lu
Chan caiu de joelhos aos pés do mestre, diante de todos os seus alunos, que
haviam entrado no pátio da casa da família para vê-lo ser castigado. Depois de
reverenciar três vezes e oferecer chá ao mestre, Yang Lu Chan disse
solenemente:
-
Senhor, sei que cometi um grave delito ao me apoderar dos segredos de sua arte
marcial. Sei das consequências, e estou pronto a aceitar o castigo.
O
clima ficou tenso. O mestre aplicaria a pena capital? Todos estavam agradecidos a Yang Lu Chan por ter derrotado
o desafiante, mas o mestre tinha de dar o exemplo para manter a disciplina. O
que ele poderia fazer?
Cheng
Chang Xin bebeu o chá compenetradamente. Então, disse:
- Que
delito? Que castigo? O delito só existe quando alguém que não pertence à
família rouba a sua arte. Mas você não é um estranho. Ao aceitar e beber o chá
que me ofereceu, aceitei-o como discípulo. Estamos todos orgulhosos de você,
como novo membro do estilo Chen de Tai Chi Chuan. Antes de se estabelecer em
Pequim para ensinar Tai Chi Chuan, viajou pelo país desafiando outros mestres
de kung-fu para lutas amistosas, e sempre os derrotava. Ficou conhecido como
“Yang, o Eteno Vencedor”. Ele foi o primeiro a romper com a tradição de que o estilo Chen de Tai Chi Chuan devia
ficar restrito aos membros daquela família, uma geração antes de Chen Jing Ping
fazer o mesmo com o Zhao Bao.
Os três
estágios do Tai Chi Chuan
O
estilo mais comumente praticado de Tai Chi Chuan hoje em dia é o estilo Yang. O
neto de Yang Lu Chan, Yang Deng Fu (1883-1936), ampliou e estabilizou os
movimentos dos padrões da Velha Forma que havia aprendido de seu pai com a
finalidade de promover os aspectos de saúde do Tai Chi Chuan. Por conseguinte,
o estilo Yang de Tai Chi Chuan, que ele desenvolveu, é às vezes chamado de
Grande Forma. Ele aboliu o saldo, o pisão, o soco direto e outros atos
agressivos e de força, mais apropriados para o combate. Também executava os
padrões mais lentamente, com delicadeza e graça, quase transformando o Tai Chi
Chuan numa bela dança, mesmo sendo ele um lutador formidável.
Ainda
que esse desenvolvimento do Tai Chi Chuan ocorrido ao longo de três gerações,
da arte marcial de Yang Lu Chan aos exercícios terapêuticos de Yang Deng Fu,
tenha muitos pontos positivos – por exemplo, é mais fácil para pessoas de idade
ou menos capacitadas, que acham o estilo original muito duro - , isso não
acontece sem algumas desvantagens. Houve a perda dos aspectos marciais. O termo
Tai Chi Chuan é uma forma abreviada de Tai
Chi quanfa (que se pronuncia “T’aidji tch’uanfa”). Tai Chi significa “o cosmo”, e quanfa
significa “a arte dos punhos” ou “arte marcial”. De fato, algumas pessoas que
praticam essa arte apenas por causa de seus aspectos relacionados à melhora da
saúde, talvez embaraçadas pela perda de sua essência, referem-se a ela apenas
como Tai Chi, e não como Tai Chi Chuan.
Entretanto,
se praticam o Tai Chi sem o seu aspecto marcial, não conseguem sequer obter os
benefícios de saúde por completo, como estar em forma, ser ágil, calmo e ter
uma mente arejada, cheia de vitalidade e energia, pois esses benefícios advêm
de exercícios que visam transformar os praticantes dessa arte em artistas
marciais de primeira linha. Em outras palavras: se você pratica Tai Chi Chuan
simplesmente como um delicado exercício
para a saúde, adquire apenas uma sensação de bem-estar, mas não
alcançará a velocidade da gazela, a calma do grou, a paciência do boi, a
coragem do tigre e a longevidade da tartaruga, ou seja, tudo aquilo que um
artista marcial espera alcançar. Por outro lado, se você pratica o Tai Chi
Chuan da maneira como ele é ensinado pelos mestres, poderá adquirir todas essas
qualidades.
Se
examinarmos o desenvolvimento histórico do Tai Chi Chuan desde o tempo de Zahng
San Feng até os dias de hoje, poderemos observar que , à medida que ele evolui
no tempo, regride em qualidade.
Existem
três estágios característicos no seu “desenvolvimento”, que são mais bem
representados no Tai Chi Chuan Wudang,
no estilo Chen de Tai Chi Chuan e no
estilo Yang de Tai Chi Chuan. O
propósito do Tai Chi Chuan Wudang é
grandioso e sublime; não se resume no mergulho no cosmo. No tempo do estilo Chen de Tai Chi Chuan, o propósito
inicial deixou de ser o cultivo espiritual e passou a ser a maestria no
combate. Mas, no tempo do estilo Yang
de Tai Chi Chuan, a dimensão marcial quase desapareceu; a maioria dos
estudantes de Tai Chi Chuan, hoje em dia, pratica essa arte marcial devido ao
seu aspecto saudável, sendo que muitos nem se dão conta de que é uma arte
marcial e muito menos de que é também um caminho para o desenvolvimento
espiritual.
“A fórmula
dos cinco caracteres”
O Tai
Chi Chuan é uma arte interior. A “fórmula dos cinco caracteres”, proposta pelo
mestre Li Yi Yu, mostra como esse aspecto interior pode ser alcançado.
A
versão original chinesa é poética e significativa.
“A
fórmula dos cinco caracteres” refere-se a: mente tranquila, corpo ágil, energia
plena, força total e espírito concentrado.
O
primeiro é chamado de mente tranquila.
Se a mente está tranquila, significa que não está concentrada. Os movimentos
devem ser comandados pela mente. Temos de estar atentos o tempo todo; a mente
estará voltada para onde que que os movimentos mudem. É preciso usar a força de
vontade, e não a força física.
O
segundo é chamado corpo ágil. Se os
movimentos corporais são lerdos e apáticos, não é possível mover-se
eficientemente. Os movimentos não podem ser hesitantes. O chi flui como uma roda; todo o corpo deve estar bem coordenado. Se
alguma parte não estiver ligada às demais, estará desconcentrada e não terá
força.
O
terceiro é chamado de energia plena.
SE o chi estiver difuso e lerdo, o movimento será desordenado. O objetivo é
cultivar a energia para que ela flua pela espinha e resulte em uma respiração
harmoniosa, de modo que todas as partes do corpo estejam ligadas. Inspiração
representa armazenamento e acúmulo; expiração é expansão e asserção. A
inspiração simboliza a capacidade de tomar e sustentar (figurativamente,
significa arcar com as responsabilidades); a expiração simboliza a capacidade
de abandonar e de soltar (ou seja, figurativamente, tolera e perdoar). Para conduzir
a energia usa-se a vontade, não a força física.
O
quarto é a força total. Toda a força
do corpo forma uma unidade, e é preciso diferenciar entre “aparente” e
“sólido”. Ao fazer força, deve haver uma fonte. A força começa no calcanhar, é
controlada pela cintura, materializa-se na mão e é executada pela cintura, com
toda a consciência.
O
quinto é o espírito concentrado. Toda
a preparação para os quatro primeiros pontos pode ser resumida em ter o
espírito concentrado. Quando o espírito, ou shen,
está concentrado, a energia, ou chi,
pode ser controlada e cultivada; o cultivo da energia, em troca, alimenta o
espírito. Portanto, ao concentrar o espírito, ganha-se energia em abundância,
agudeza mental, coordenação nos movimentos e capacidade de diferenciar entre
“aparente” e “sólido”. Estar “aparente”
não significa que não exista força, quer dizer que a aplicação da energia é
flexível; estar “sólido” não significa imobilidade, e sim que a mente está
concentrada naquela posição. É importante que os movimentos do peito e da
cintura não tenham origem exterior. A força é obtida do oponente, e a energia é
executada a partir da espinha. Executar a energia a partir da espinha significa
que a energia está submersa, os ombros estão recolhidos na direção da espinha,
com o foco na cintura. Quando a energia flui dessa maneira, de cima para baixo,
é chamada de “fechada”. Quando ela flui da cintura para a espinha,
espalhando-se até os ombros e chegando até as mãos e os dedos, é chamada
“aberta”. “Fechado” significa receber, “aberto” significa liberar, soltar. Quem
compreende esses conceitos de “aberto” e “fechado” entende o conceito de
yin-yang. Ao chegarmos a esse estágio, estaremos tão capacitados que finalmente
alcançaremos o ponto em que conseguiremos fazer tudo o que a mente deseja.
Então não há nada que não possamos fazer.
Em
resumo, as principais lições do Tai Chi Chuan se baseiam em cinco pontos:
1. Mente: estar atento
aos movimentos do oponente.
2. Corpo ou postura:
fluir de acordo com a postura do adversário.
3. Energia vital ou chi: difundida por todo o corpo.
4. Força interior:
controlada na cintura.
5. Espírito ou shen: preparação geral para os quatro
acima.
Os dez pontos
mais importantes do Tai Chi Chuan
Os
três elementos fundamentais do Tai Chi Chuan são: postura (xing), a energia (chi) e
o espírito (shen).
Yang
Deng Fu foi o mestre responsável por transformar o vigoroso estilo Chen no
calmo e gracioso estilo Yang, que é o mais praticado hoje em dia.
Os Dez pontos mais importante do Tai
Chi Chuan de Yang Deng Fu dão muita
importância ao treinamento da postura, base para se alcançar a energia e o
espírito.
1. Shen que se eleva ao topo. Para que o shen, ou espírito,
vá até o alto da cabeça, ela deve estar ereta.
2. Abaixar o peito e elevar as costas. Abaixar o peito significa recolhê-lo para que o chi possa
descer ao dan tian (ou campo
abdominal de energia, cerca de seis centímetros abaixo do umbigo). Elevar as
costas significa concentrar ali o chi.
Abaixando o peito, levantamos normalmente as costas. Se for possível elevar as
costas, pode-se invocar sua força interior, o que possibilitaria a vitória no
combate.
3. Soltar a cintura. A
cintura é a parte que controla o dorso. Soltar a cintura equivale a fortalecer
os pés para estabilizar a postura. Todas
as variações e ações combinadas entre “aparente” e “sólido” são feitas a
partir da cintura. É por isso que se diz: “A força vital tem sua origem na
cintura”. É por isso que se diz: “A força vital tem sua origem na
cintura”. Quem não consegue adquirir
poder no combate deveria remediar a situação na cintura.
4. Diferenciar entre “aparente” e “sólido”. Esse é o primeiro fundamento do Tai Chi Chuan. Se todo o
peso do corpo estiver sobre a perna direita, ela é “sólida”, e a esquerda é
“aparente”; se todo o peso do corpo estiver sobre a perna esquerda, esta é que
é “sólida” e a direita é “aparente”. Quando se pode diferenciar entre
“aparente” e “sólido”, os movimentos se tornam ágeis, como se fossem executados
sem esforço. Se não forem diferenciados, os movimentos das pernas ficam
pesados, as posturas ficam instáveis, e o adversário facilmente tirará proveito
disso.
5. Abaixar os ombros e deixar cair os cotovelos. Abaixar os ombros significa que eles estão relaxados e
pendem naturalmente. Se os ombros estiverem elevados, e não abaixados, o chi se elevará e todo corpo ficará sem
força. Se os cotovelos estiverem altos, os ombros não se abaixarão. Dessa
forma, o fluxo do chi não terá
grande alcance. Essa fraqueza assemelha-se àquilo que no kung-fu se chama
“força interrompida”.
6. Usar a vontade, não a força. A filosofia do Tai Chi Chuan diz: “Tudo reside em usar a
vontade, não a força.” Quando praticamos Tai Chi Chuan, todo o corpo deve estar
relaxado; não pode haver a menor tensão entre os músculos, nos ossos e no fluxo
sanguíneo, o que resultaria em autoconstrição. Depois de chegar ao relaxamento
completo, a pessoa ficará flexível e versátil nos movimentos circulares,
conforme a sua vontade. Alguém poderia perguntar: “Como desenvolver a força sem
usar a força?” Isso acontece porque o corpo tem meridianos, da mesma forma que
a terra tem canais. Se os canais não estão bloqueados, a água flui
tranquilamente. Da mesma maneira, se os meridianos não estiverem bloqueados, o chi fluirá harmoniosamente. SE todo o
corpo estiver tenso com a força, o chi
e o fluxo do sangue ficarão bloqueados e os movimentos ficarão desajeitados.
Mesmo se puxarmos um só fio de cabelo, todo o corpo se moverá (isso significa
que todo o corpo está interligado pelos meridianos, com cada uma das partes
afetando as demais) Se não usarmos a força mas a vontade, sempre que
comandarmos a vontade o chi atenderá.
Portanto, temos de deixar o chi e o
sangue fluírem serenamente pelo corpo todo, sem interrupção. A prática
constante desenvolverá a verdadeira força interior. Por isso é que se afirma,
na filosofia do Tai Chi Chuan: “Se extremamente flexível e gentil, depois se
extremamente rígido e forte.” O braço de um praticante de Tai Chi Chuan é como
o ferro no algodão, extremamente poderoso e estável. As pessoas que treinam
artes marciais externa são poderosas quando usam a força, mas leves e
flutuantes quando não usam a força. Isso mostra que a sua força é exterior e
superficial. Usar a força sem a vontade facilmente resultará em instabilidade,
o que demonstra uma arte incompleta.
7. Coordenação entre a parte de cima e a parte de baixo. O significado da coordenação entre a parte de cima e a de
baixo revela-se na filosofia do Tai Chi Chuan: “Às raízes estão nos pés, a
execução nas pernas, o controle na cintura, a materialização nas mãos e nos
dedos.” Dos pés às pernas e à cintura, a
ação completa-se “em um único chi”
(que é o termo do kung-fu que significa “continua espontaneamente, sem
interrupção, no tempo de uma respiração confortável). Movimentos das mãos, da
cintura e das pernas, bem como “olho vivo” deverão estar todos num movimento
unificado; só assim pode-se dizer que há coordenação entre a parte de cima e a
de baixo; se faltar algum movimento, se houver alguma interrupção, o movimento
unificado ficará desordenado.
8. Unidade interior e exterior. O treinamento do Tai Chi Chuan está na mente; portanto, “a
mente é o comandante, e o corpo é o agente”. Quando a mente está trinada, os
movimentos e as ações ficam naturalmente leves e ágeis. Os padrões do Tai Chi
Chuan nada mais são do que movimentos alternados de “aparente” e “real”,
abertura e fechamento. “Abrir” não quer dizer simplesmente que as mãos e as
pernas estão estendidas, mas também que a mente e a vontade estão estendidas;
“fechado” não significa apenas que as mãos e pernas estão recolhidas, mas que a
mente e a vontade também estão recolhidas (ou seja, concentradas). Se o
interior e o exterior estão unificados em um único chi (ou corpo de energia), isso significa que não há separação no
cosmo.
9.Continuidade sem
interrupção. Nas artes marciais
exteriores, a força é o resultado da tensão pós-natal (ou seja, artificial em
oposição à natural); assim, há começo e fim, continuidade e interrupção. No Tai
Chi Chuan usa-se a vontade, não a força; ele é contínuo do começo ao fim, sem
interrupção; depois de cada ciclo, ele começa novamente, num círculo sem fim. O
Tratado original menciona que o Tai Chi Chuan é como as ondas contínuas do rio
Longo (Yang-tzé Kiang, o maior rio da China). Ele também diz que a aplicação da
força no Tai Chi Chuan é como a tecelagem da seda (longa e contínua), o que
expressa o armazenamento e a continuidade em um único chi, o que significa que a força interior é canalizada
continuamente regulada pela respiração adequada.
10. Procurar a quietude no movimento. As artes marciais exteriores enfatizam a capacidade de
correr e pular rapidamente; gasta-se muita energia nessas atividades, o que
leva os praticantes à estafa depois do treinamento. No Tai Chi Chuan é a
quietude que governa os movimentos. Quando um praticante se move, é como se ele
estivesse parado. É por isso que no Tai Chi Chuan, quanto mais lento for o
movimento, melhor. Quando eles são vagarosos, a respiração fica profunda e
longa, o chi está submerso no dan tian (campo energético abdonimnal),
e naturalmente não existe o problema de o sangue e o chi estarem “inchados” , ou
seja, bloqueados.
Conclui-se
que o objetivo do Tai Chi Chuan, enquanto luta marcial, é a eficiência no combate, embora sua prática
colabore na aquisição de saúde, vitalidade e longevidade. A clareza mental, a força
interior e a estabilidade contribuem para que o praticante lute bem, mas são
qualidades que também beneficiam a vida diária e estimulam a saúde, a
vitalidade e a longevidade.
O Tai Chi
Chuan enriquecendo a vida diária (na saúde, lazer e trabalho)
A
prática do Tai Chi Chuan nos oferece inúmeros benefícios.
Saúde
é mais do que apenas a ausência de doenças clínicas.
Não
existe nenhum livro de medicina que defina o estado de saúde. Não existe um
processo para monitorar quando e o quanto estamos saudáveis. Sabemos apenas
quando não estamos saudáveis, porque
então algo está errado. A definição corrente de saúde na medicina ocidental é
não esta doente.
Na
China, todo esse conceito se inverte. As pessoas simplesmente o viram do outro lado. Quando alguém está
doente, pergunta-se apenas: “Por que essa pessoa não está bem?”
Abro
um parêntese para observar que esta diferença na abordagem da saúde entre
chineses e ocidentais foi bem descrita por James MacRitchie em seu interessante
e informativo livro Chi Kung: Cultivating
Personal Energy.
Deveríamos
examinar mais de perto a definição chinesa de saúde: a saúde é compreendida em
termos de SISTEMA DE ENERGIA, pois o sistema energético está num estágio um
tanto diferente e mais elevado do que apenas carne, sangue e ossos. Esse
sistema atua como um “sistema de controle” ou “mapa” do corpo. Ele constitui a estrutura básica A sequência
hierárquica de controle e influência é a seguinte:
ENERGIA/CHI ͢ SANGUE ͢
CÉLULAS ͢ TECIDOS
͢ ÓRGÃOS ͢ FUNÇÕES ͢
RELAÇÕES ͢ O TODO
Assim,
se o nível básico da sua energia/sistema de controle/mapa não estiver em ordem,
você provavelmente está para ficar doente.
Fatores
como dormir bem, ser emocionalmente estável e ter entusiasmo para trabalhar e
divertir-se contribuem para uma vida saudável. E, se muitas vezes, o tratamento
mecânico e reducionista das doenças, propagado pela medicina ocidental
convencional, não é capaz de estabelecer a causa de moléstias ditas incuráveis
(hipertensão, asma, reumatismo, úlcera, diabetes e câncer), temos que apelar
para meios alternativos, como a prática do Tai Chi Chuan.
A energia e a medicina chinesa
A
base da medicina e de todos os cuidados com a saúde chineses é o chi, ou
energia. Todas as práticas médicas chinesas, incluindo fitoterapia, acupuntura,
massagem terapêutica, medicina externa, traumatologia e a terapia do chi kung,
voltam-se para a correção da desarmonia energética. Se o fluxo de energia
estiver desarmonioso, afetará o funcionamento normal e saudável de cada um dos
sucessivos níveis hierárquicos mencionados por MacRitchie, e se manifestará
como uma disfunção do corpo (e da mente). Por esse motivo, o tratamento deve
ser holístico e dirigido ä causa de origem. Se tratarmos uma doença do fígado
objetivando apenas o órgão, por exemplo, seus tecidos ou células desordenados
poderão provocar uma recaída da mesma doença ou então uma disfunção em outra
parte do corpo. Na medicina chinesa não tratamos do fígado ou de seus tecidos e
células; tratamos da pessoa inteira levando em consideração o seu chi.
Se um
paciente com câncer consultar um médico chinês, este não o descreverá como
canceroso, pois na medicina chinesa tradicional essa doença não existe! Existe
uma palavra no chinês moderno para o câncer – ai – mas não é um termo da medicina chinesa tradicional; é um termo
traduzido do inglês.
Então
como um médico chinês descreveria a doença de um paciente com câncer? Ele
descreveria a doença – qualquer doença – não do ponto de vista dos sintomas e
da localização, mas da perspectiva da pessoa toda em relação à causa de origem
no nível básico de energia. Ao determinar as causas, o médico não estará
preocupado com o que causou a moléstia, como por exemplo qual o tipo de agente carcinogênico ou a
quantidade de radiação, mas sim com o que levou o paciente a ficar doente, ou
seja, por que ele não conseguiu ajustar-se aos carcinogênicos ou à radiação,
quando outras pessoas o fazem com sucesso. Portanto o médico descreverá a disfunção como estagnação
da energia do fígado devido a um bloqueio do meridiano do pulmão e ao chi insuficiente no baço, ou ao acúmulo
de veneno quente no nível intermediário do peito devido a um bloqueio
energético no meridiano do períneo. Vários pacientes que sofrem daquilo que os
médicos convencionais chamam de mesmo tipo
de câncer, são descritos diferentemente pelos médicos chineses, pois as
razões pelas quais os pacientes não conseguiram superar o câncer naturalmente,
em geral são diferentes.
Embora
essas descrições não façam sentido para quem só vê a doença sob a luz do
paradigma médico ocidental convencional, para o médico chinês elas são significativas
e concisas, muitas vezes apontando as causas, a localização e o estágio de
desenvolvimento da doença. E, o que é mais importante, essas descrições jamais
são uma sentença de morte; na verdade, se as causas da doença, como o bloqueio
de energia ou o calor venenoso descritos acima, forem eliminadas, o paciente se
restabelecerá sem nem sequer sabe que teve câncer.
Talvez
alguém, acostumado a ouvir que o câncer em geral é fatal e incurável, se
surpreenda ao saber que a doença pode ser atenuada. Ainda mais espantoso é que,
de acordo com os especialistas ocidentais, todos nós sofremos de câncer alguns
milhares de vezes na nossa vida, mas somos curados por nós mesmos sem nos
darmos conta disso.
Então,
por que algumas pessoas desenvolvem câncer, ou qualquer outra doença? Segundo o
pensamento médico chinês, é porque algumas partes do corpo (incluindo a mente,
uma vez que mente e corpo são sempre tratados como uma unidade pela medicina
chinesa) deixam de funcionar como deveriam e essa falha se deve a uma
desarmonia do fluxo de energia. O Nei Jing,
ou Internal Classic of Medicine,
considerado o texto mais autorizado sobre medicina chinesa, afirma que, se a
energia vital flui harmoniosamente pelos meridianos, a doença simplesmente não
ocorre. Se esse conceito parece difícil de aceitar do ponto de vista ocidental
sobre a saúde, vale a pena analisar o fato de que essa visão, mais do que
qualquer outra é responsável pela manutenção da maior população do mundo pelo
período mais longo da história.
Traduzindo
em termos médicos convencionais, o fluxo harmonioso do chi significa que os sistemas de retroalimentação, de defesa,
imunológico, regenerativo, hormonal, transportador e todos os outros sistemas
corporais estão funcionando naturalmente. Se micróbios prejudiciais penetrarem
no corpo, o sistema de defesa proverá os anticorpos necessários para mata-los
ou inibi-los e o sistema de transporte os eliminará do organismo. Se houver
desgaste, ou se ocorrer deposição de resíduos tóxicos no corpo, como por
exemplo, ácidos que corroem o estômago ou formação de colesterol nos vasos
sanguíneos, o sistema regenerativo reparará o desgaste ou o sistema hormonal
produzirá os hormônios ou substâncias químicas necessários para neutralizar os
resíduos tóxicos. Se houver tensão emocional ou mental, o corpo comandará os
devidos sistemas para dissipar as emoções negativas e descansar a mente.
Os efeitos do Tai Chi Chuan na saúde
O
verdadeiro treinamento do Tai Chi Chuan proporciona uma saúde radiante,
vitalidade e clareza mental.
Promover
um fluxo energético harmonioso e alcançar um estado mental elevado, algo
excelente para a eficiência no combate, bem como para que todos os sistemas
corporais funcionem adequadamente, são os dois traços característicos do Tai
Chi Chuan.
Quais
são os sinais que indicam que alguém tem um fluxo energético harmonioso e
atingiu um estado mental elevado? Quando se chega a um alto nível de controle
da energia, em geral pode-se sentir o fluxo energético e canalizar a energia
para onde se desejar.
Quando
se alcança um estado mental elevado, sente-se tranquilidade, alegria e paz
interior, mas se mantém a mente viva e alerta todo o tempo. As dimensões
emocional e mental se ampliam e se aprofundam, e as insignificâncias com que
muitas pessoas se preocupam, como mexericos e inveja, passam a ser consideradas
infantis. É surpreendente a intensidade e a clareza com que encaramos e
resolvemos problemas que antes pareciam insuperáveis. Também os amigos
perceberão a calma e a confiança que inspiramos.
Estas
qualidades são conquistadas com a prática e dedicação ao Tai Chi Chuan.
Quando despertarmos subitamente para a grande
verdade cósmica de que não possuímos um corpo físico, mas somos na realidade um
fluxo infinito de energia em união com a energia do cosmo, teremos atingido o
propósito mais elevado do Tai Chi Chuan.
O vídeo a seguir demonstra esta conexão com o Cosmo através do Tai Chi.
O Tai Chi Chuan e o desenvolvimento
espiritual
A
arte marcial Wudang, em seu nível mais elevado, leva à satisfação espiritual.
Dois mestres de Wudang (Pei Xi Rong
e Li Chun Sheng) assim disseram, conforme Wudang
Martial Arts, Human Science and Technology Publications:
Ao praticar a série, os movimentos
deveriam ser estendidos (e não restringidos); e as formas, graciosas e ágeis,
com a força fluindo continuamente, sem interrupção, como água corrente. Ao
completar uma sequência, deveria seguir-se outra, de modo que os movimentos
fluíssem continuamente, complementando os aspectos rígidos e flexíveis. Usar o
corpo para conduzir os braços, usar a força de vontade para canalizar o fluxo
energético e fazer uso deste para movimentar o corpo. A prática deveria ser
lenta, elegante e harmoniosa. Ao executar qualquer padrão, deveríamos usar movimentos
circulares e a força interior em espiral. Os movimentos deveriam ser feitos
conforme o fluxo infinito de energia vital nos meridianos, de maneira que a
energia vital e o sangue se espalhassem sore todos os órgãos e partes do corpo,
par atingir o objetivo de força interior e poder exterior.
Assim,
ao praticar essa série de Tai Chi Chuan Wudang,
não se deveria usar a força mecânica, nem realizar cada figura ou sequência em staccato. Todo o conjunto flui como
água, sem interrupção. Num estágio muito avançado, os movimentos corporais não
são provocados pelos músculos, mas pelo fluxo de energia, que por sua vez é
governado pela mente. Esse nível ainda mais alto, quando subitamente acordamos
para a grande verdade cósmica de que não temos um corpo físico, mas somos um
fluxo ilimitado de energia, em união com a energia do cosmo, teremos alcançado
o objetivo mais elevado do Tai Chi Chuan. Todavia, o Tai Chi Chuan mais
avançado só deveria ser praticado sob a supervisão de um mestre.
O Tratado do Tai Chi Chuan
1. O cosmo nasce do
vazio. O Cosmo é a fonte de todo movimento e de toda a quietude.
2. Não há excesso que não
tenha equivalente; quando existe contração existe distensão.
3. Se os movimentos forem
rápidos, deve-se responder com a velocidade apropriada; se os movimentos forem
graciosos, também devemos ser graciosos.
4. Com prática e
dedicação desenvolvemos a arte de compreender a força.
5. Mantenha a cabeça
ereta e afaste todos os pensamentos irrelevantes. Concentre a energia no campo
energético do abdômen.
6. Se a esquerda estiver
pesada, esvazie a esquerda; se a direita estiver pesada, evite a direita.
7. Nem uma pena pode ser
acrescentada, nem uma mosca pode pousar. O oponente não me compreende, mas eu o
compreendo.
8. Há muitas outras artes
que são diferentes; elas são, principalmente, o forte contra o fraco, o rápido
contra o lento, usam a força contra quem é menos forte.
9.
Usar quatro tahils contra mil katies não depende apenas de força. Um homem velho enfrentando
muitos jovens demonstra que a velocidade pode ser inútil.
10.
Postar-se com
equilíbrio, ser ágil como uma roda.
11. Os que praticaram
durante muitos anos, mas não sabem como neutralizar a força do oponente,
continuam a ser derrotados, pois não souberam vencer a fraqueza do peso duplo.
12.
Para superar essa
fraqueza, temos de conhecer o princípio do pesado e do leve. Quietude é
movimento, movimento é quietude. O yin nunca se separa do yang, e o yang nunca
se separa do yin. A arte de compreender a força só é possível quando yin e yang
estão em harmonia. Ficamos cada vez mais habilidosos no treinamento à medida
que dominamos a arte de compreender a força.
13.
É preciso entender as
técnicas de contato das armas para que possamos avançar de acordo com o nosso
desejo.
Os princípios do Tai Chi Chuan no Tao Te King
O Tai
Chi Chuan é considerado uma arte taoísta, porque sua filosofia e prática
derivam do Tao Te King de Lao Tsé.
Ensinamentos típicos do Tai Chi Chuan, como não lutar, não iniciar um ataque e
a não-agressão, por exemplo, são mencionados com frequência no clássico
taoísta.
No
Tai Chi Chuan, enfrentar a força com a força é considerada a pior das táticas e
estratégias das artes marciais, pois tanto o vencedor quanto o perdedor sofrem.
Outro
princípio característico do Tai Chi Chuan é a sua “flexibilidade”. O flexível
vence o rígido. A água é a coisa mais flexível do mundo. Os movimentos do Tai
Chi Chuan fluem como se fossem água. Quando o oponente ataca, o praticante de
Tai Chi Chuan deixa seus movimentos fluírem ao longo ou por cima do ataque, em
vez de ir contra ele.
Essa
ideia de água fluindo e se espalhando é também o princípio fundamental para a
promoção da saúde na prática do Tai Chi Chuan, manifestada no fluxo harmonioso
da energia.
Quanto
maior for a prática de Tai Chi Chuan, maiores e mais sutis são as percepções da
energia.
Alguma posições do Tai Chi Chuan:
Harpa
Asa de cegonha
Roça joelho
Nuvem
Pé levantado
Segura bola
Cauda de pássaro
Chicote
Orelha de macaco
Segue outra sugestão de leitura sobre o Tai Chi:
Sem muita pretensão, segue um vídeo ilustrativo sobre os 24 movimentos do Tai Chi. Afinal de contas, nada é tão impossível assim!!!
TAI
CHI - 24 forms - Yang Style – China and Brazil together
Fluindo como um rio, liberando o
Chi, ativando a energia, enfim, rompendo o portal do mistério para alcançar o
maravilhoso através do Tai Chi Chuan ...
O Tai
Chi Chuan em dupla ajuda a nos concentrar e entrar em sintonia com a nossa
energia e a energia do outro.
A
arte do Tai Chi nos leva a pensar, a agir e sentir de um modo diferente, porque
nos permite encontrar um equilíbrio emocional e energético.
Vamos fazer uma viagem?
Un tour au Chine à travers l'art du Tai Chi Chuan (太極拳 - Tàijí quán)
Vamos fazer uma viagem?
Un tour au Chine à travers l'art du Tai Chi Chuan (太極拳 - Tàijí quán)
O Tai
Chi é poesia em movimento; a beleza e a energia se misturam, fluindo como um
rio e em repouso como uma montanha; a
China e o Brasil juntos, mestre e aluno em sincronia e harmonia ... porque
quando a energia é ativada, deve ser expressa como os movimentos de um bicho da
seda tecendo um casulo.
Muita
energia, paz e amor!!!
Que tal praticarmos um pouco de Tai Chi Chuan?